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sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Falta de sexo no casamento é mais comum do que se imagina

Data marcada, preparativos, convidados, festa, vestido, bolo. Tudo pronto para começar uma bela história com a esperança de um final do tipo "e viveram felizes para sempre". E ponto final. Nem sempre é assim. Pode até ser que o seu relacionamento seja realmente aceso e quente por tempo ilimitado. Mas o contrário também existe. E como. Há, acreditem, casais que passam anos e anos sem terem sequer uma relação sexual.

É o caso da promotora de eventos Susi Teixeira, 44 anos, de São Paulo, que ficou casada nove anos, dos quais seis sem sexo. "Casei sabendo que ele não gostava tanto de sexo como eu, mas era e sempre foi um homem perfeito: bonito, inteligente, carinhoso, companheiro e preocupado comigo", relata.

Susi acabava se satisfazendo sexualmente pela masturbação até resolver se separar e, assim buscar uma vida sexual mais plena. "Quando fiz 40 anos reavaliei minha vida e me dei conta de que eu era muito nova para me privar de sexo", conta ela, que não tem filhos.

O assunto não é novo, porém parece que tem se acentuado nos casais atualmente, segundo os especialistas. "Descartando os problemas ligados à saúde, esse quadro é uma consequência da vida contemporânea, com dupla jornada de trabalho, estresse da rotina, falta de tempo e preocupações", diz a psiquiatra Carmita Abdo, coordenadora do Projeto Sexualidade (ProSex) do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas (HC).

"Esses fatores associados à vida sedentária, tabagismo, bebidas alcoólicas e má alimentação tira a disposição para o sexo", afirma a médica.
Ritmos diferentes

Susi, no entanto, postergou a decisão pela separação, pois tudo ia bem no casamento, exceto pela falta de sexo. "Para ele, era mais importante estarmos bem, suprir as necessidades financeiras e evoluir material e profissionalmente", lembra. Enfim, eles tinham necessidades diferentes.

Para o urologista e terapeuta sexual Celso Marzano, diretor do Centro de Orientação e Desenvolvimento da Sexualidade (Cedes), cada pessoa tem um ritmo, uma frequência sexual. "É preciso saber qual o importância do sexo na vida dela", aconselha.

Foi isso que constatou o Mosaico Brasil, um levantamento feito por especialistas do Hospital das Clínicas com mais 8 mil pessoas (50% homens e 50% mulheres) em dez capitais brasileiras.

Carmita explica que em uma parte da pesquisa os participantes elencaram o que é mais importante para alcançar qualidade de vida entre dez itens.

Para os homens, o sexo ficou em segundo lugar, perdendo para alimentação. Já para as mulheres, o sexo figurou em oitavo lugar, mais importante apenas que férias e exercícios físicos.

"Diante desse resultado, digo que se confirma o ditado que homem faz sexo para se sentir bem e mulher faz sexo quando está bem", conclui a psiquiatra.

Cumplicidade
Para a psicóloga e sexóloga Carla Cecarello, coordenadora do Projeto AmbSex (Ambulatório de Sexualidade), de São Paulo, o casal que chega a uma situação de ausência de sexo no casamento, nunca teve uma vida sexual satisfatória ou não tinha cumplicidade e intimidade naturalmente. "A falta de sexo não acontece de uma hora para outra. É uma consequência de ações e reações ao longo dos anos", diz.

Exemplos confirmam a afirmação de Carla. A psicóloga Jacqueline Teixeira Fernandes, 41 anos, separada desde 2003, ficou casada por dez anos, dos quais quatro sem sexo. "Éramos apaixonados, por isso casamos rapidamente, com dois anos de namoro. Mas após três anos, descobri que não gostava mais dele. Inventava várias desculpas para não transar, ia contornando aqui e ali, pois não me sentia bem ao fazer sexo com ele. Mas nunca contei a verdadeira razão", diz.

Em sua mente, tudo estava bem resolvido: "Tenho uma filha que adora o pai, meu marido é ótimo pai, e vou continuar casada por isso". Ela só se separou quando sentiu que a filha, então com 9 anos, estava preparada. Hoje casada com outro homem, diz que tem relações sexuais quase toda a noite. "Nosso relacionamento é bem diferente. Falamos tudo um para o outro", conta.

Infidelidade
Para a psicanalista e sexóloga carioca Regina Navarro Lins, autora dos livros Casamento Sem Sexo e A Cama na Varanda (ambos Ed. Best Seller), o cerne da crise no casamento está na exigência de exclusividade. Isso gera uma dependência emocional.

"É claro que há exceções, mas em geral o pacto de fidelidade leva à perda total de tesão, pois não é preciso conquistar mais o parceiro", afirma Regina. Para ela, a única pergunta a se fazer é: "Eu me sinto amado?." Se a resposta for sim, o que o outro faz não tem a menor importância.

O psicólogo Ailton Amélio da Silva, professor do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (USP), afirma que, apesar de o ser humano ser um animal conflituoso, quando se compromete com outro, consegue criar mecanismos para ser fiel. "Quem está apaixonado, pode ficar até cinco anos sem se interessar por outra pessoa, segundo estudos", afirma ele.

Autor do livro Para Viver um Grande Amor (Editora Gente), o psicólogo defende que vale a pena se dedicar a uma pessoa e ser fiel. "Com a minha experiência na área de relacionamentos humanos, afirmo que os ganhos e a qualidade de vida superam as vantagens de transar com várias pessoas superficialmente. Mas cada casal deve criar o seu modelo de se relacionar."

Xô, comodismo
Razões não faltam para dar continuidade a um casamento sem sexo. "Mexer nessa situação é, no mínimo, desgastante. Por isso, muitos preferem sublimar a sexualidade", afirma Marzano. Conveniência, filhos, interesses financeiros, status social ou político são fatores levados para continuar uma relação sem sexo.

Carla Cecarello acredita que o casal pode reverter a situação quando perceber, muitas vezes por meio de comparações (amigos, familiares), que não está indo bem. "Aceite o que falta e converse. Olhe sempre para frente. É a forma de prevenir ou consertar", aconselha.

Nesse contexto, criatividade é a palavra de ordem dos especialistas. Regina Navarro Lins, no entanto, discorda dessa premissa. "É o tesão que leva à criatividade. Sem desejo pelo parceiro, não tem criatividade e ânimo que dêem jeito na relação", afirma.

Mais que criatividade, Celso Marzano avisa que nada funciona se não tiver vínculo afetivo para resolver o problema no casamento. "A primeira providência é conversar, a segunda é ir ao médico para descartar problemas físicos e a terceira é fazer terapia sexual", recomenda.

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